As fraudes no processo de votação manual

Desde o Império, a fraude foi uma constante nas eleições brasileiras. Além de ferramenta de coação dos eleitores, as fraudes eram utilizadas como parte da estratégia de embate entre os grupos políticos, envolviam o eleitor, o voto e o candidato. Em que pese várias iniciativas, este cenário começou a ser combatido de maneira estruturada a partir de 1932, com a criação da Justiça Eleitoral. Desde então, o processo eleitoral evoluiu no sentido da informatização para diminuir ao máximo a intervenção humana, principal causa dos erros intencionais ou não. Para mais informações, acesse Museu do voto.


A seguir, detalhes de algumas das fraudes conhecidas mais frequentes antes da informatização do processo eleitoral brasileiro.

Fraudes durante a preparação das urnas de lona

Urna grávida ou emprenhada

Antes do início da votação, cédulas preenchidas eram depositadas na urna de lona, ou seja, a urna, que deveria estar vazia, já chegava à seção eleitoral com votos dentro dela.

Ilustração de uma urna de votação inchada de tantos votos, mas cheia de votos inválidos e com o lacre violado.

Fraudes no transporte das urnas de lona até a Seção Eleitoral

Substituição de urna
Roubo de urna

Antes de chegar aos locais de votação, as urnas oficiais eram substituídas por outras repletas de cédulas preenchidas.

Ilustração de duas urnas de votação sendo trocadas. A primeria urna de votação está vazia e lacrada e está sendo trocada por uma urna cheia de votos indevidos e com o lacre 'violado'.

Antes de chegar aos locais de votação, as urnas oficiais eram roubadas inviabilizando a votação em determinadas seções eleitorais.

Ilustração de dois ladrões roubando urnas de votação.

Fraudes na votação manual

Voto formiguinha
Voto estoque
Eleitor votar no lugar de outro
Eleitor fósforo

O eleitor recebia a cédula do mesário, entrava na cabina de votação e, em vez de preenchê-la e depositá-la, guardava a cédula em branco e colocava um papel qualquer na urna de lona. O organizador da fraude, que estava fora da seção, recebia a cédula oficial, assinalava os candidatos desejados e a entregava para outro eleitor. Esse eleitor depositava a cédula já preenchida, pegava outra em branco e a entregava para o organizador, que repetia o processo fraudulento à exaustão.

Uma ciclo com quatro imagens. A primeira mostra um bolso de uma calça com uma cédula de votação falsa. Na segunda ilustração aparece o mesário entreando uma cédula em branco para a pessoa que tinha a cédula falsa. Na terceira imagem a pessoa insere na urna de votação a cédula falsa. Na quarta imaegm aparece a pessoa entreado a cédula em branco para o próximo eleitor.

As cédulas do estoque de segurança das seções eleitorais eram preenchidas e inseridas nas urnas.

Ilustração com diversas cédulas sendo preenchidas indevidamente e sendo colocadas na urna de votação.

O eleitor apresentava documento falso para se identificar na seção eleitoral e votar. Dessa forma, era possível que um mesmo eleitor votasse mais de uma vez em mais de uma seção eleitoral. Era possível, até mesmo, votar por pessoas já falecidas.

Ilustração de um eleitor apresentando uma identificação falsa.

O eleitor mudava seu visual e votava em várias seções eleitorais. “Eleitor fósforo”, então, era aquele que "riscava" várias urnas.

Ilustração de uma mesma pessoa com diversas aparencias diferentes por conta de disfarce em sessões de votação distintas.

Fraudes no transporte das urnas de lona até a Junta Apuradora

Substituição de urna
Roubo de urna

Ao final da votação, as urnas com os votos coletados durante o dia eram substituídas por outras com votos indevidamente preenchidos.

Ilustração de duas urnas de votação sendo trocadas. A primeria urna de votação está vazia e lacrada e está sendo trocada por uma urna cheia de votos indevidos e com o lacre 'violado'.

Antes de chegar aos locais de votação, as urnas oficiais eram roubadas, inviabilizando a votação em determinadas seções eleitorais.

Ilustração de dois ladrões roubando urnas de votação.

Fraudes na apuração manual dos resultados

Número falso
Votos brancos preenchidos
Fraude cantada
Mapismo (Desvio de votos)

As cédulas que continham apenas o nome do candidato eram preenchidas com o número de outro candidato. Com isso, os votos eram anulados, pois não se tornava possível identificar, com segurança, para qual candidato o voto havia sido consignado.

Ilustração de uma cédula de votação com apenas o nome impresso tendo o número do voto sendo preenchido indevidamente.

No momento da votação, os votos eram marcados com caneta azul. Na apuração, utilizava-se caneta vermelha para identificar as cédulas apuradas. Nesse momento, ao se deparar com votos em branco, o apurador os preenchia com caneta azul.

Ilustração de cédulas em branco (tanto nome como número) sendo preenchida indevidamente nos campos nome e número.

Os votos eram consolidados em mapas eleitorais após serem apurados (contados). A fraude ocorria de duas maneiras: a pessoa que informava os números da apuração para serem registrados no mapa eleitoral, chamado de escrutinador, "cantava os votos", ou seja, falava em voz alta os números errados para serem registrados no mapa; a outra maneira era a pessoa responsável por escrever os votos no mapa registrar valores diferentes dos votos cantados.

Ilustração de um balão de fala 'dizendo' um número diferente do mostrado na tela do computador.

Ao digitar o mapa de resultados, os votos eram retirados de um candidato e dado a outro, dentro da mesma legenda. Assim, por exemplo, se dois candidatos tinham 50 votos, era registrado 80 para um e 20 para outro, mantendo-se o total de 100 votos. Também era possível inverter a votação de dois candidatos, ao se manipular as linhas e colunas do mapa de resultados.

Ilustração de uma planilha com os votos de cada candidato diferentes dos números lançados no computador.